sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Cheiro de Chuva




Quando cheguei sem avisar, a casa estava vazia e a porta, trancada. 

Consegui abrir a janela e vi a cortina abraçar a chuva. Me distraí em alguns segundos pensando em como iria secar aquilo, mas, logo que a vi também pular pra dentro, percebi seu cabelo ficou enrolado de um jeito que só uma tempestade é capaz de deixar. 

Logo em seguida um estrondo anunciou a queda de energia elétrica. Girei apressado a tranca sentindo fortes investidas dos pingos raivosos com o vento.  

Apoiei o queixo dela no meu peito e senti seu abraço úmido marcar minha camiseta. Tempestades também abençoam. 

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Sinônimos Anônimos


Carlos foi convidado pelo amigo Fred a participar da reunião de Alcoólicos Anônimos que sempre acontece nas noites de terça.
Fred conheceu o grupo após passar por um curto trauma de divórcio. Assim como Carlos, não percebeu quando a falta de rotina sóbria havia impactado negativamente sua vida. 

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Lúcia é casada com Fred. Conheceu-o através de uma reunião dos Alcoólicos Anônimos, onde, após desabafos, interessaram-se um pela história do outro. Resolveram curar a cirrose do amor com doses de companheirismo.

Ambos conheciam Carlos e Ana e sabiam da má fase por qual passavam dois. O mesmo convite que Fred fez ao Carlos, Lúcia fez à Ana.

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Carlos e Ana entraram tinham em comum as desilusões amorosas. Ambos corriam na mesma estrada para superar os reveses. Na ânsia para superar suas desilusões, acabavam entrando na contramão da frustração.

Entregaram-se ao vício dos bares, esvaziando os copos para esvaziarem as dores. 

Carlos casou-se novamente. Ana tentava não colecionar novos pares.
Carlos renunciou ao casamento sem amor. Ana nunca quis insistir com alguém.

Tanta coincidência não era acaso. Conheciam-se da faculdade. O típico casal feliz. Cúmplices de tudo. 

Enfrentavam uma crise forte quando Carlos precisou trancar a faculdade por falta de grana. Ana insistiu no curso de jornalismo para ser parte da realização de Carlos.

Em certa noite em que os professores faltaram, Ana usou sua cópia para entrar no apartamento dele e esperar. Faria uma surpresa. 

Carlos, no entanto, tivera que viajar às pressas a trabalho. Pediu que sua vizinha ficasse com sua chave para trocar a água e colocar ração pro pequeno vira-lata, que havia adotado há pouco tempo com Ana.

Sempre morrendo de amores por Carlos, a vizinha aproveitou a situação para divagar semi-nua na cama do rapaz, e, assim, ter o cheiro do vizinho às suas ilusões.
Acabou caindo em sono profundo.

Ana entrou devagar no apartamento, foi recebida pelo vira-lata e, chegando no quarto, percebeu a silhueta diferente na cama do namorado. Acendeu a luz e deparou-se com a moça esticada nos lençóis.
Desesperou-se, mas resolveu que sairia da vida de Carlos, como havia se retirado do quarto: na ponta dos pés, sem fazer barulho e sem olhar para trás.

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Carlos, sem demora, notou o sumiço de Ana. Voltou de viagem e a procurou em inúmeros telefonemas, mensagens, e-mails e na saída da faculdade. Desesperou-se ao obter dela, a resposta sobre o sumiço: Ana mentiu um novo amor. Sem entender e cansado de argumentar, Carlos desistiu.

No dia seguinte, chegando ao trabalho, foi pego com mais uma surpresa: recebeu um convite para uma promoção profissional. Para isso precisava morar por alguns anos no exterior. Não refutou. Levou consigo suas roupas e o cachorro. Decidiu se afundar no trabalho para curar o término do namoro.

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Por orgulho, nunca mais se procuraram. Carlos casou-se e foi infeliz por alguns anos até pedir o divorcio. Ana virou uma jornalista mediana, pautando acontecimentos em um programa sensacionalista da TV. Foi demitida após a audiência se cansar.

Com tantas desilusões seguidas, o refugio para os dois foi a bebida.

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Anos depois, Carlos voltou à cidade onde morava, de onde Ana nunca havia se mudado.
Dizem que o acaso é o melhor amigo de quem enfrenta o destino com descaso.

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A reunião do grupo começou pontualmente às 19hs. Após os juramentos e textos de auto-ajuda, começaram as apresentações. Lúcia chegara atrasada com Ana, enquanto Carlos estava terminando de desabafar a desilusão amorosa no centro do circulo. Foi aplaudido e sentou-se pro mesmo lugar. Já era a terceira vez que comparecia à reunião.

Lúcia foi chamada ao centro do circulo. Sentiu-se envergonhada, mas logo começou o longo relato. Carlos, que, estava com o pensamento distante, olhava de relances para uma moça que falava sem parar no centro do circulo.

De súbito, teve uma sensação estranha. Olhou com mais atenção. Agora o rosto que deslocava frases sem parar, lhe parecia familiar.

Apesar de o tempo ter soprado a moldura dela, riscando no seu corpo alguns sinais inevitáveis, o tom de voz, a cor dos olhos e o sinal no canto do queixo lhe entregavam o nome da moça.
Era ela o motivo de inúmeras vezes embriagado, das tantas injeções de glicose, da presença dele ali, naquele lugar.
Ficou aflito. Pensou em ir embora. Mudou de idéia. Pensou em interromper o discurso da moça e debater os motivos para ser abandonado como fora. Queria apontar-lhe o dedo em riste, gritar palavrões salivados. Mudou de idéia.

Resolveu ir ao banheiro e lavar o rosto. Não conseguiu esfriar o calor da pele. Suava como um estivador, apesar da água corrente. Voltou somente instantes antes da reunião de encerramento. Procurou com os olhos a garota que havia chegado com a esposa de Fred. Perguntou delas e soube que precisaram ir mais cedo por conta de um mal estar da estreante.

A semana passou devagar, mas, enfim, a nova reunião chegou.

Carlos estava pontualmente no local como de costume. Quando foi convidado ao centro da reunião, pediu para ser o ultimo a dar relato.

Com meia hora de atraso, chegaram Lúcia e Ana.
Ana prontamente se dispôs a relatar o motivo que a havia levado ao vicio do álcool. Contou de forma rasa o que a levara ali: desilusão.

Carlos ouviu o relato da mulher, escondido num canto atrás do ventilador de parede, apoiado com o ombro em uma rachadura na parede amarela. Levantou. Seguiu rumo ao banheiro para lavar o rosto que suava em bicas naquela casa de forro cimentado e sem ventilação.
Não fechou a porta do banheiro. Na brecha da porta ouviu o agradecimento da companheira dando fim à apresentação. Conhecia bem aquela voz. Lembrava dos suspiros que desenhavam as sílabas despidas nos teus ouvidos.

Fechou os olhos e jogou água no rosto novamente. Desta vez, com mais raiva, como se quisesse acordar de mais uma de suas ressacas.

Quis ganhar tempo no banheiro, teve tiques nervosos. Era sempre assim, quando tenso, martelava a ponta do indicador num ritmo ansioso. 

Martelou a pia com a unha. Parecia querer furar um circulo na peça de porcelana. Desejava se metamorfosear com a peça do toalete, transformar-se num objeto de decoração imperceptível naquele banheiro minúsculo e escuro.

Batia com mais força a cada passo que Ana dava rumo ao pequeno cômodo. Carlos arrancou uma lasca da pia e viu o dedo sangrar. Respingos caíram no tênis. Esgueirou o braço embaixo da torneira. Quando desceu a mão úmida para esfregar no calçado, respingos desceram pelo cotovelo manchando a camisa. Suspirou alto. Foi notado. Ouviu o ranger da porta devagar, enquanto o salto de Ana ecoava pelo assoalho, como um relógio que adianta os ponteiros antes de alarmar o despertador. 

Esta era a situação atual. Observava o ponteiro movido pelo salto da ex namorada alardear sua presença sem que pudesse desligá-lo.

"Desculpe, precisa de ajuda?" Perguntou com inocência ao ex-namorado, sem saber quem estava ali, abaixado, treinando um truque de desaparecimento.

Carlos virou-se e paralisou seus olhos na boca de Ana, que imóvel, não entregou a ultima sílaba de um sorriso despretensioso. Uma eternidade se arrastou pelo cômodo úmido trilhado pela água que caía da pia transbordada.
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E foi aí que tudo transbordou naquele instante. As salivas engasgaram as palavras e as lembranças e os olhos de Ana. 





sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Esoterismo neurótico ascendente


Ela despeja o link na minha janela do chat.
_Ascendente em Câncer. Passional demais.
Lança uma série de rs rs rs rs.

Leio. Releio. Que diabo é isso? Releio.
Passional. Me apego ao breve texto adivinhatório descritivo.

Sempre soube que meu signo é de virgem. Vez ou outra olhava nas páginas do jornal. Ali, embaixo dos quadrinhos do Garfield. Lia todos e escolhia um que servisse pro meu dia. Gosto assim. Gostava assim. Virgem. Imagem imaculada.

Descendente em Câncer. Ou Ascendente. Não vi direito. Mas gosto dos carangueijos. Me lembram Mangue Beat. Aliás, o nome do signo poderia ser algo como Risoflora. O meu deveria ter ascendência em Maracatu Atômico. Que bobagem.


A janela continua piscando. Ela parece eufórica. Jura que me descobriu. Escreve sem parar. Quer me detalhar. Coloca um mapa. Um mapa astral. Quem me convencer que ali sou eu descrito. Síndrome de João Bidu.

Ainda não havia respondindo, Mas de alguma forma ela sabia que eu já li.
"Sabia que essa coisa de ser impulsivo tinha um por quê". 
Ela não para. Enumera minhas manias e liga ao horóscopo. Leva a sério. Frenética nos cliques. Quase ouço os dedos dela dançando eufóricos no salão de teclas.

Não respondo. Quero fechar a janela. Dissidente em câncer. "Eu sabia que. Eu sabia que. Eu sabia". Leva o assunto tão a sério quanto meu cachorro briga com o próprio rabo.

Esc. Fecho a janela do link esotérico. Mas ela não para. Agora desfila exemplos de artistas do mesmo signo. Ela precisa muito disso. Coisa séria esse negócio de signo. Estalo os dedos e fecho a janela de novo. Por segurança desligo o monitor. Por um pouco mais de segurança ainda, desligo o estabilizador.

Levanto e vou pegar o jornal que deixaram na minha porta. Trocaram a primeira página de lugar. Deixaram a dos quadrinhos. Leio o Garfield e desço os olhos nas páginas até encontrar os signos.
"Virgem: dia difícil para os ascendentes em câncer".

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Meu coração, que você sem pensar, ora brinca de inflar, ora esmaga


Ela não usa o twitter nem o facebook. Finge não saber o que é flickr.
Esforça-se na ignorância virtual.
Diz que prefere ser divindade grega, olhando de longe todas as confissões de singelos pecadores, tão abertos, mas que nem chegam perto dos suspiros de seus menores pecados. Não gosta de se expor assim a todos. Prefere segmentar as opiniões que lhe interessam.
Disse que certa hora do dia até passa os olhos por sobre um perfil ou outro, que eu, mero mortal, estico nos endereços eletrônicos.
Vez ou outra ri com maldade de certas escolhas nas minhas redes sociais.
_E essa menina com esse cigarro que dorme aceso no cinzeiro? Blasé demais.
Exagera no Aff!

Ao contrário do que prega, não é deusa, é diaba.

Mal termina a frase e pula com um riso maldoso no meu ouvido: Esse seu esforço de ser o Homem Cordial é no mínimo falido.
Fico vermelho, roxo, enquanto seus olhos amendoados se apertam numa gargalhada que parece não cansar.
E rio junto depois. Confesso minha mortalidade caiçara e vou na onda. Me defendo:
_Conta aí: 80% de garotas no meu perfil sem premeditar isso.
Olha com desdém e saca o isqueiro sem conseguir acender o cigarro nas cinco primeiras tentativas.
Quando enfim consegue brasa no fumo, se vinga beijando fumaça na minha boca.

Fecha meu note sem me perguntar. Pede mais uma cerveja pro garçom. A sexta garrafa.
Ela não é comum mesmo. É tipo um baião. Tipo um Baião que o Chico descobriu muito antes de mim.
Canto pra ela que me interrompe sem educação, num beijo demorado, que também sem educação se retira pra abraçar a cerveja que o garçom já trouxe.

_Perdição.
Falo alto, olhando ela encher meu copo sem aparentar o mínimo de embriaguez, enquanto cambaleio o disfarce.

Repreende minha educação me olhando como um militar e depois ri como uma puta.
Confunde, desdenha, ri a maldade clicando fotos e me provocando depois de apagá-las.
_Não vou ser parte do seu mundinho virtual.

Tem razão.  Ela é real demais pra isso.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Borboletas das pernas dela no meu estômago.


Da festa só o que sobrou foi a tatuagem na coxa. Dela. Colorida, bonita como uma borboleta tem que ser.

Lembro que era um sábado ruim, daqueles que vc fica triste por saber que a cia do seu cachorro é tediosa. Companheiro de um sábado que mais parece uma noite de quarta-feira sem futebol.

O colchão jogado na sala misturava o edredon e os lençóis que escondiam o focinho do Zé. 
Esquecido perto do osso de plástico, o telefone de bruços no chão, sonolento.

De repente a mensagem faz vibrar o aparelho e mexe o osso de lado. O Zé se assusta e pula em cima calando o toque enjoativo que acorda o aparelho e grita em uma mensagem: Festa em Pedro de Toledo! Bora?

BORA! Respondi em caixa alta,para o dono da mensagem. 
As cervejas na geladeira e uma garrafa de Margarita praticamente davam o passe livre para a festa que exigia algo para beber.
O Zé me olhou de lado enquanto eu saía pela sala,  fiquei com dó, mas ele nem deu bola, procurando o conforto do edredon quentinho.

Saí com o carro pra pegar uma hora e meia de estrada. Fiquei o caminho todo imaginando Pedro de Toledo como um grande sítio aberto com indícios de civilização - Um mercadinho na esquina com uma igreja no meio da praça e alguma balada num posto de gasolina - só poderia ser assim.

Errei. Não tinha igreja, nem posto, nem mercadinho. 
O local tinha dois ou três bares contornando uma praça no meio da cidade. 
A praça servia como uma espécie de bússola norteando os bairros. 
Do meio da praça dava até para enxergar melhor qual era o bar com maior movimento. 
Gostei da logística, logo, gostei de Pedro de Toledo.

Partimos rumo ao sítio, em um caminho forrado com o maior numero de estrelas que já vi. Vencemos as sinuosas curvas da estradinha marota. 
Árvores plantadas na escuridão chamavam ao abismo e na brincadeira pelo asfalto noturno, um deslize, e quase o mergulho do carro em meio ao desconhecido. 

_Ninguém aqui vai morrer novo, porra! 
Ninguém riu.

Susto passado, chegamos ao furdunço. Me animei. Meus companheiros desceram do carro e foram na frente. Preferi a tática de ficar no final da fila olhando as meninas que vinham nos cumprimentar e observar qual delas estaria mais animada.

Deu certo. Vi uma tatuagem andando na minha direção. Abracei ela, senti seu cheiro e fiquei com dó de me afastar. 
Arrisquei um beijo demorado pertinho da curva do sorriso.
_Prazer.



Me acompanhou descendo numa sincronia pelas escadas que davam ao jardim, onde rolava um dj tocando alguma coisa que não estava legal. Não lembro. Ela saiu de perto para cochichar com as amigas. Olhei pra todos em volta. Vi que a ansiedade de ser recebido tinha ganhado fôlego. Festas dão essa sensação. Ansiedade de ver quem chega, ansiedade de ver quem recebe.

Voltei para o hall de entrada e a vi novamente. 
Agora ganhava um rosto. Até falava. Se aproximou de mim pousada na coxa. Asas abertas pra dar sorte. Sorri pra sorte, sorri pra borboleta. Sorri pra ela. Abracei ela. Borboletas tem um cheiro ótimo. São doces. Dá vontade de pousar junto. Nela. Na coxa dela. Ai, ai, borboleta... Pensei na ansiedade de quem recebe. Sorri. Por mim a festa ficava por ali mesmo, na sala vazia, com ela e sua borboleta encoxada. Delícia.

Festa ruim. Delicia de cia. Morram vocês todos encostados aí nessa mureta olhando pro mato. Que se foda esse sítio.

Morreram mesmo num silencioso tédio. Decidiram partir. Se vingaram. 
_É cedo ainda - argumentei com força. 
 Ninguém me ouviu. Filhos da puta. 
Olhei pra ela, ali, com uma garrafinha na mão rindo na minha direção. Borboleta. Delicia de borboleta com gosto de cerveja. Ai, ai...


Olhei para os meus amigos que agora já dirigiam-se à porta de entrada, que também era a de saída.
Fui voto vencido. 

Encostei e anunciei a despedida. Dei meu msn e meu número. Ela anotou na palma da mão. Quase pedi pra anotar na coxa, perto da asa colorida. Linda borboleta, eu disse assim, quase emocionado. Ela sorriu abrindo as asas do sorriso. Linda.

Subimos de volta às estrelas. Tanta estrela me envolvendo e nem para aparecer uma cadente e resolver meu pedido.

Dei uma última olhada. Ela ainda ali sorrindo pra mim e apontando pra mão rabiscada. 
Ai, ai...

Voltamos à Toledo quase caindo no mato de novo. Ri da cara deles, mas por outro motivo. 
Chegamos com os bares fechados. Fim da linha na estação Pedro de Toledo.

Rumei de volta à Santos olhando o nada.
Na minha cabeça algo bate asa. Passeia pela boca, garganta e brinca no estômago. 
Borboletas no estômago. 
A viagem toda ficam ali voando de um lado para o outro. 
Ai, ai...

terça-feira, 10 de maio de 2011

Bipolaridades.


 Juntou todas as suas melhores frases num texto pouco convincente, teceu nas linhas as letras que formavam a rede semântica colorida com os sinônimos vindos do sorriso dela.
Guardou a folha no bolso perfumado, enrolado em um plástico dobrável, colorido com adesivos de banca de jornal.

Pensou nas frases mais bonitas, seriam sua declaração em meio ao nervosismo, sem se alongar muito, olhando pro vidro do carro e torcendo para que as palavras rebatessem em todos os cantos até que morressem nos ouvidos dela.


Pensou em ligar antes para confirmar a visita, mas decidiu valorizar a surpresa.

Seguiu destino, imaginando ela saindo com o mesmo vestido que foi cúmplice na noite passada, cabelo rabo de cavalo e sorriso estampado quando o visse.
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Ela olhando no relógio da parede, lembrou de algum comentário dele sobre uma visita na noite de terça. Olhou novamente o relógio do celular e lembrou-se de desligá-lo. Desejou que ninguém viesse hoje, estava com cólica, seu ventre murmurava frases de mal humor, seu humor era resumido em uma feição de zagueira de time de rugby. Pronta pra golpear sem pudor.

Ele tocou a campainha dela, uma, duas. Esperou. Terceiro toque. Ela suspirou. Vestiu a blusa do pai, um par de meias e chinelos. 

Desceu pelo corredor já pensando em alguma forma de dispensar o jovem mancebo, que apesar de ser legal, não fodia nem saía de cima. Ela queria outra coisa. Preferia o Atroveran acompanhado por um edredom. Sozinha. Pelo menos hj, numa noite de tpm forte.

Ela se aproximou dele, desviou da boca e encostou no ouvido dele um beijo mudo e um olá forçado.

Disfarçando o mal humor, evitou o olhar. Ele, inseguro, reforçou o chão. Trocaram palavras monossilábicas. Ela comentou sobre algo na Tv que estava chato. Ele riu escondendo os dentes.

Comentou do frio que estava ali, mas não a convidou para o carro. Colocou a mão no bolso se aquecendo e deslizando o dedo no bilhete guardado.
Perguntou a ela o q estava passando na TV.

Ela respondeu que não entendia esses programas melodramáticos. A atração de hoje era um idiota qualquer que gostava de escrever baboseiras para sua namorada.

- "Como se alguém pudesse se esconder mesmo atrás de palavras..."
"Como se alguém pudesse não se esconder em palavra alguma..." - Pensou ele.

Sentiu o nó na garganta sorrindo amarelo. O frio agora apertava seus dedos dentro do casaco. A carta entre eles.

Seguiam no ritmo do clima da noite. Gelados, sem brilho de estrelas ou da lua.

Ela viu um pedaço de papel saindo bolso dele e teve um insght para uma desculpa. Disse que deveria entrar pq estava fazendo um trabalho da faculdade. Disse isso esquecendo q era o primeiro dia das férias. Ele percebeu o equívoco, esboçou um comentário, mas desistiu. Disse que ligaria no dia seguinte.
Ela não respondeu. Deu um beijo sem demora e se despediu, sem convidá-lo para entrar.

Havia uma desistência mútua não declarada.

Ele com as palavras que seriam rasgadas no caminho, jogadas aos pés do portão dela, decidido a desistir. Ela, olhando pela janela, com a certeza que ele era o cara errado, que além de não ter trazido um chocolate sequer, ainda deixou sujeira de papel picado no portão.

quinta-feira, 31 de março de 2011

Lacuna.

 
Eu não posso dizer que é saudade. Não posso te entregar isso numa ligação, num olhar, numa lembrança.

As lembranças que eu tenho se reunem de muitas formas diferentes, e em muitas formas diferentes tambem foi o jeito de enfrentar isso tudo.
E isso tudo tem sido dificil.

Tem sido dificil forçar uma aceitação que diz que a pior intimidade a ser perdida é a dos olhos.
Ficou dificil pousar meus olhos nos seus sem sentir o gosto que eles têm.

O gosto que eu tinha na boca quando sorria pra você, eu tambem esqueci.
Esqueci de muitas coisas. Esqueci quais as coisas tão bonitas que eu dizia pra você.

Esqueci dos detalhes das cores das primeiras flores que te entreguei. Esqueci do bilhete, do que havia escrito nele. Da cor da minha caneta, da cor do teu cartão.

Esqueci do cheiro no teu travesseiro, dos cabelos caídos pelo lençol, enroscados na minha roupa.

Esqueci das cores das tuas lingeries esquecidas num canto qualquer desse apartamento pequeno.
Do cheiro delas no teu corpo, do cheiro do teu corpo nelas. Do cheiro do teu corpo em mim.

Dos teus suspiros, teus pedidos, teus gemidos.
Esqueci como eram os meus olhos em cima de você.

Esqueci a data da primeira noite que dormimos juntos, que horas você acordou, quanto tempo eu demorei pra dormir só pra te olhar mais um pouco.

Dos sonhos que você disse ter tido comigo. De todos que tive com você.

O primeiro filme que te indiquei, o primeiro livro que vc disse ser bom. A primeira frase de efeito, a primeira resposta muda.

O teu melhor amigo que vc pensou que eu teria ciúmes. Teu ciúme das minhas amigas.

Esqueci da nossa última noite, do nosso primeiro desejo. Da nossa primeira noite que pedia um último desejo.

Esqueci de todas as coisas que não tenho me esforçado para lembrar. Mas isso não quer dizer que ainda seja vontade de esquecer. Talvez.

Talvez a unica coisa que eu não esqueça, seja de como você me atormenta ainda, fazendo com que eu perca horas em claro na madrugada pensando em como eu deveria ter esquecido de lembrar disso tudo.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Parafraseando teu sono.


Ainda não era hora de dormir. Ela disse isso assim, com todo o sono do mundo. Me pediu uma história. Me pediu as minhas histórias. Histórias contadas para outros olhos. Mas em nenhum ouvido entregues.

Digitei o mesmo endereço eletrônico de alguns anos pra cá. Me vi escrito e descrito por mim mesmo em tantas palavras e frases.

Lancei a leitura nas linhas da página virtual. Realcei os tons pra que em nenhum sonho daquela noite eu pudesse me ausentar.
Parava e sustentava a preocupação: ‘Bateu o sono?’ ‘Não. Continua pra mim.’

Reli para mim mesmo no isolamento da minha sala, as sílabas que em dias de tormentos me levavam ao teclado.
Devaneios ocorridos pela estrada, horas deitado no sofá em dias tristes e felizes. Contrastes confusos que regaram pequenas histórias.
Lembranças minhas agora presentes na imaginação dela.

Um personagem particular que descobriu um reino de portas abertas.

10 minutos falando e as respostas monossílabicas foram se ausentando. O sono, objetivo procurado, foi alcançado entre os jardins das histórias simples, sem rebuscamentos. Com flores de todas as cores, com frases de todos os gestos. Uma ponte invisível, um sinônimo que nos ligava além da linha telefônica.

Parei em teste. Travei meu suspiro para ouvir.
Silêncio.

O som da Tv ao fundo e a sua boca respirando em sonhos.

Fechei a página, desliguei o monitor com o celular nas mãos. Fui para o quarto com a certeza de algo anormal, especial.
A ligação ainda não desligada no celular deitado ao meu lado, travou meu olhar como que buscando o ar angelical dos olhos fechados em transe.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Pra você, que sabe que é pra você.


Ela resolveu voltar. Voltar a escutar os Beatles, a ler Neruda, a ver quadros de Degas. Entenda, ela teve que se esconder disso tudo, de tudo que a lembrasse isso que chamavam de amor.

Ela não era dessas pessoas que se apaixonavam de repente, que em 1 semana já tinham fotos de casal em redes sociais, em 2 já diziam “eu te amo” e em menos de um mês já pensavam em morar junto. Sempre acreditou que quem “amava” muito rápido, “desamava” mais rápido ainda. E tudo que ela queria era um amor possível, construído, real, com os pés no chão e a cabeça no céu.

Por ser assim não era dada a muitas paixões, mas todas as vezes que se apaixonava dava seu coração, acreditando que quem sabe daquela vez pudesse ser diferente. Mas seus amores não resistiram ao mundo real. E toda vez que um amor morria, levava com ele um pedaço do coração dela. E não é tarefa fácil andar por aí com o coração despedaçado.

Resolveu então juntar todos os pedacinhos que tinha perdido por essas andanças e com cuidado foi passando cola em cada um e encaixando-os como num quebra-cabeças complicado. Pronto, agora tinha um coração completo e talvez até pudesse escutar “I wanna hold your hand” com aquele sorriso alegre e bobo de alguns anos atrás.

Apesar de tudo, como em qualquer quebra-cabeças, as marcas sempre ficam, são visíveis em cada encaixe. Cada marca contava uma história de amor, algumas bonitas e sinceras, outras nem tanto. As marcas contavam choros, lágrimas, sorrisos e todos os espinhos que ela havia pisado no caminho.

Mas ela havia voltado, ainda que um tanto desconfiada, havia voltado a acreditar que um dia essas marcas contariam para alguém o início de uma história. Elas iriam traçar o caminho para o encontro que sempre esperou. Elas valeriam a pena e ela aprenderia a ter orgulho de cada uma delas.


“Ela tem muito e quer mais. Quer sempre. Quer se cobrir de eternidade, quer o oxigênio do risco pra ficar sempre menina. Ela quer tremer as pernas, beijo no ponto de ônibus e a milésima primeira vez. Quer cor e som, lembrança de ontem, sorriso no canto da boca. Ela quer dar bandeira. Quer a alegria besta de quem não tem juízo. O que ela quer é tão simples. Só que ela não é desse mundo.” (Amor e Ponto – Cristiana Guerra)

 

terça-feira, 15 de março de 2011

Deixa eu pintar o meu nariz.


Era fim de tarde caótico na entrada das cinzas carnavalescas. O caos presente na rotina dos últimos foliões dava as boas vindas na entrada do prédio.

Alguém cantando pela rua, outros vestidos de mulher - estranho fetiche resguardado pra esta época, outras dançavam até o chão, quase limpando com a saia os confetes que pareciam toalhas estendidas pela farra que se mostrava resistente ao término.

Ela aguardava o elevador descer , enquanto eu abria a porta do hall de entrada, trazendo o vento e derrubando o bilhete que avisava sobre o elevador desativado devido aos últimos "sambas" dançados dentro do mesmo. Pisei no papel e mostrei a marca da minha sola em cima do recado: Sem elevador até o dia seguinte.

A alternativa estava desenhada à esquerda, mostrando um caminho difícil pela frente, passos cansados e a folia que havia tomado até a ultima gota de vigor que havia naqueles corpos. Mas não havia outra saída, a não ser que quisessemos voltar à rua e desfilar em meio ao bloco que entoava o estranho refrão carnavalesco em uníssono pela rua Pindorama à fora: Segura no Bagre! 

Rimos e em acordo instantâneo decidimos pela escada.

Nossa proximidade era incontida fora da caixa de aço, inevitável o passo sincronizado pelas escadas acima. Um trio corria pela rua sentido à praia, enquanto nosso caminho era sentido contrário. Sem passos ensaiados para economizar fôlego. Inevitável começar aquela conversa.

_Que dia parao elevador quebrar...
_É q você é nova por aqui, sempre quebra.
_Não sou...achei q você fosse...

Falamos assim, com quase a mesma sincronia dos passos. O cansaço apertou as mãos no mesmo momento. Sorriso suado.

_Ufa, quinto andar. Parou? Chegou? Não. Cansei. Vamos sentar?

Sentei esperando ela.

A nuca suava molhando a ponta dos cabelos loiros, os braços deixavam os pingos correrem até caírem pela ponta dos dedos. Seus olhos sorriam com um certo devaneio, pareciam felizes, torci que fosse pelo encontro, mas provavelmente o Carnaval era o responsável.

Ironia. Subimos de escada toda aquela ironia. O vento que decidiu brincar de Carnaval com o bilhete de aviso, não se dava o trabalho de subir todos aqueles degraus para um sopro qualquer.

_É sempre no ultimo dia que encontramos as pessoas mais legais.
_É sim, mas nem acabou ainda.
_Ainda não, mas poderia ter rolado antes.
_Iria te encontrar de qualquer jeito. Sabe como é, já ouviu aquela? "O acaso é amigo".

Disse com desdém, quase apontando na folia do Carnaval a desculpa de poder falar o que viesse no instante embriagado pelo cansaço dos degraus.
E riu, querendo me mostrar que conhecia uns tais Los Hermanos, barbudos cantores de musicas melódicas, que eu, figura carnavalesca com flores de havaianos nos ombros, pés descalços e bermuda tactel nem deveria conhecer.

Mal sabia ela que sou tão moldado para o carnaval quanto meu cachorro Zé é para um concerto de ópera.
O acaso é amigo.

Subimos juntos os nove andares dela. Desci mais dois, pra chegar no meu, o sétimo. Fiquei no intervalo das escadas sentindo o rastro do perfume dela que ainda se apoiava na parede. Quase flutuei fechando os olhos e ouvindo lá embaixo os foliões com a estravagante "Segura no Bagre".

Imaginei os tais barbudos hermanos cantando isso em tom melódico quase triste, e ri sozinho.

Coloquei a mão no bolso e olhei o papel com um numero e o nome dela.
Se todo carnaval tem seu fim, ainda era hora de eu brincar de ser feliz.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Nas curvas das palavras.


 Cantei a tarde toda os versos presos na minha cabeça. Volume alto, voz distorcida, olhos no horizonte.
Enquanto dirigia, as folhas das árvores balançavam pelo caminho, fim de tarde cinza combinando bem com o preto do asfalto. O Zé dorme com o corpo enrolado, farejando o vento que entra rápido pelo vidro aberto.

Carros acelerados buscavam seus destinos apressadamente. Eu sem a certeza de querer chegar no meu destino, cedia passagem com desprendimento.

Desprendimento é o q venho colecionando nas afetividades que vêm me encontrando. Estar livre e traçar uma rota de fuga com alguem que esteja na mesma situação de liberdade é o q me presenteia nesta fase.

Antes de cada coisa e cada pessoa no seu devido lugar, me posiciono numa situação confortavel, ouvindo a musica que escolhi e olhando no banco ao lado meu cachorro aproveitando o vento fresco da estrada.

Sobre liberdade, certo que acredito nas palavras curtas do Carpinejar. Liberdade é ter um amor para se prender. Mas não é situação atual e vira texto utópico na vontade de não ter pra quem chegar.

Já estive preso em outras utopias, pensar q o sentimento forte prevalece é uma delas.
Mas nas horas que se seguem do desenrolar dos dias até encontros outras. Algumas bonitas, que vem de encontro com as vontades, mas não configuram a vontade cúmplice da soma.

Liberdade é ter um amor pra escolher.

Talvez seja isso mesmo, depois de alguma curva, passeando com o cachorrinho pelo acostamento depois do cansaço da viagem, talvez embaixo de uma arvore florida, lutando contra o vento querendo levar as toalhas, quem sabe ainda no carro ao lado, num sorriso encontrado num posto de combustível pela estrada. 

Fato que o amor é realmente combustível pra vida, o que resta é torcer pra encontrar poucos postos adulterados nos caminhos que eu e meu parceiro canino ainda devamos percorrer.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Sinônimos Anônimos.



Perdi a hora sem estar dormindo. Você tambem? Acho que sim. Passou sem percebermos.
É bom quando isso acontece. 

Andar afundando o pé na areia do mar é o que vinha me dando esse sensação. Subo no alto do morro e vejo as ondas, me vejo nelas, me divertindo, brincando. Brincando de me misturar com Deus. E saio feliz.

Por aqui venho rindo bastante. Passar horas com você falando bobagem e rindo das minhas meninices me faz aumentar o sorriso inteiro. É bom fazer bem, é simples assim. É o que pode te definir bem. Simples assim.
Fiquei tímido quando você passeou os olhos por aqui. São tantas coisas que envelhecem com rapidez que, vez ou outra, quando alguém passa e dá uma limpada no pó que tem, acabo sentido aquela aflição de pisar descalço na poeira.

Tenho perdido a hora com facilidade. Não...Acho que não tem sido bem assim. Tenho ganhado horas que me fazem bem com facilidade. 
Beijo as palavras com um sorriso que você me emprestou.
Espero não ser esse misterio todo pra vc. Ainda q demore um tempo.

Sabe como é, Itanhaense, pai solteiro de um cachorro, futuro publicitário e cheio de meninices como essa.

=)

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Autocontrole.



Fechei os olhos e respirei fundo. Estava em uma situação delicada, ainda inédita. Fixava meus olhos na boca que dizia as palavras sem docilidade.
Ouvi e agradeci os comentários. Disse que o banco estaria disposto pra sanar as dúvidas, os problemas, e, enfim, tê-la satisfeita como cliente. Sem olhar para trás ouvi ainda uns grunhidos e as canetas da minha mesa sendo derrubadas. Sorri, agradeci, e a acompanhei até a porta giratória.
Após uma hora do fim do expediente ao publico, recebo um telefonema. Pedidos de desculpas pelo descontrole antecipando elogios pela educação e um convite para um sorvete na orla. Tudo aceito.
Dia difícil, mas vitorioso.
Lição própria aprendida na prática.


Estive com dificuldades de autocontrole durante quase um ano inteiro. Mudanças ásperas, cidade nova, distancia dos amigos, e a vida quase sempre difícil chamando pra si.


Compromissos, um namoro conturbado e provavelmente com um tom de intensidade que nunca mais irá acontecer. Extremos. Dificuldades.


Aprender com os erros foram passos que não consegui adiantar muito. Me peguei falando e agindo de uma forma que desconhecia até então. A dispersão dos olhos buscando um autismo já não fazia o mesmo efeito. Um turbilhão de acontecimentos familiares, pessoais e amorosos. Explodi.
Algumas pessoas conseguem manter seu controle nos olhos ou em sonhos. O stress da vida nova que traz um caminho sempre assustadoramente promissor me afligiu.
Perdido, andei em formas e formatos longe de fazer quem me amava feliz e presente. Assumi a culpa.


Passei um ano novo vestindo coisas velhas. Uma hora de estrada com 4 estalos de sono. Descuido. Medo.
Em casa, deparei com uma surpresa. Dia amanhecido. Caminho novo pela frente.


Parei com o namoro. Com uma data de vencimento estipulada, abracei o mundo e mais ninguém. Recebi a chuva de um domingo com os braços abertos, e um sorriso estampado. Idéias em ordem e um recomeço diferente. Conselhos aceitos, e uma terapia que transformou em poucos dias.


As mudanças que vieram trouxeram as pessoas novas, que encontraram uma porta aberta e entraram sorrindo, da mesma forma que partiram. As novidades me assustam.
Ver minha ex namorada com uma nova pessoa é doloroso. 
Amor que eu nunca tive igual, que eu nunca mais terei.
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Sigo adiante, tenho o mar me esperando, como sempre.


Toco a prancha e entro no mar remando com as pernas fechadas, queixo erguido e olhar fixo com as remadas sincronizando um avanço. Venço a dificuldade na arrebentação. Espero que o mar limpo possa trazer uma onda na medida. Demora. Perco o equilíbrio, escorrego, caio. E depois de varias tentativas acerto uma manobra linda e saio sorrindo de volta.


As coisas são assim, e esse autocontrole faz parte de uma sucessão de novidades que encontro na minha varanda todo fim de tarde. Meu cachorro se intera, abana o rabo, lambe meu sorriso. E alerto que a mamãe sempre será a mesma. As coisas são assim, a vida muda, mas a família nunca.


Pronto pra um recomeço que faz dos dias corridos mais esperançosos. Sempre difíceis, mas vitoriosos.