segunda-feira, 25 de maio de 2009


Queria que aparecesse sempre pra que essa vontade de escrever sem parar e essa vontade de falar sem parar e essa vontade de rir sem parar não parassem nunca.


quarta-feira, 20 de maio de 2009


"Se você não se atrasar demais, posso te esperar por toda minha vida."

(Oscar Wilde)

domingo, 17 de maio de 2009

Musica/Clip do Dia.

http://www.youtube.com/watch?gl=BR&v=yxdC-QL7e3I



Pra matar a saudade.

Quem Ama Reclama - Fim

Texto de Marcelo Rubens Paiva, publicado no Estadão. (ótimo!)



Diante do marido, Maria enumerou as razões, todas falsas. Não contaria que partia, pois descobriu há exatamente 12 horas o homem da sua vida, Mauro, aquele de quem sempre falavam ''o seu número''. Enfiou o essencial numa mochila verde e se mudou para a mãe.

No dia seguinte, ele estava na sala, esperando. Ela se sentiu invadida, pegou a mochila e foi para a casa da melhor amiga, aquela que o viu com outra. Deixou genro e sogra falando sozinhos. Quando o viu no outro dia no retrovisor a seguindo, acelerou, escolheu ruas vicinais, desceu até o estacionamento do shopping, parou numa vaga, subiu dois andares pelas escadas, saiu e entrou num táxi.

Chegou pontualmente no apartamento de Mauro, que abriu a porta de banho tomado. A casa cheirava a xampu. Se beijaram na porta. As pernas dela tremeram. Ele sorriu: ''Que linda.'' Então, tocou o interfone. Ele logo adivinhou problemas. Ela sentou no canto do sofá e acariciou o labrador. O porteiro informou. O marido dessa senhora que acabou de subir está na portaria. ''Ele está calmo'', foi lacônico. Mauro olhou para Maria e, procurando disfarçar a apreensão, avisou: ''Seu marido está aí.''

Ela levantou num pulo, fez cara de ''paciência-tem-limite''. Contou que saiu de casa há dois dias, que ele não se conformava e hoje a seguiu. Mauro, para organizar a confusão e surpresa, resolveu ser prático: ''Você quer que eu o dispense?'' Ela balançou a cabeça que sim.

Claro que Mauro não foi pessoalmente. Nem passou pela sua cabeça duelar por alguém que mal conhecia, aquela de quem sempre falavam ''o seu número''. Pediu para o porteiro dispensar com educação o requerente, e chamar seguranças dos prédios vizinhos, se as circunstâncias assim exigissem.

Ficaram Mauro e Maria em silêncio. Momento ideal para ele se alongar na habitual tarefa de abrir um vinho, girando o saca-rolhas com mais precisão, cheirando a mesma, examinando a bebida contra a luz, enquanto calculava o que fazer, se a situação fugisse do controle. Ela foi para a varanda, checar a vista, o céu e a consciência.

Ele checou as portas trancadas. Aumentou o som e serviu o vinho.

Mauro desceu na manhã seguinte, para comprar pães e queijos. Perguntou ao porteiro se tudo bem. Ele disse que o rapaz chorou, coitado, confessou que não fez nada, que não merecia, que boatos de uma traição chegaram ao ouvido dela, tudo falso, que aquelas amigas o detestavam, faziam propaganda contra, que ele a amava, iam ter filhos. ''Deu pena, seu Mauro. Eu disse: o senhor é jovem e bonito, tem a vida pela frente. Ele foi embora 15 minutos depois. Cabisbaixo. Chorando.

''Ele agradeceu envergonhado. Fez as compras na padoca da esquina. Temeu ser atacado pelas costas. Pior que não sabia quem era, nem como. Mas, como o adversário não forçara nada no dia anterior, era provavelmente da (e pela a) paz, e nesta altura, indicam os manuais do atraiçoado, se conformava sussurrando no gargalo de um destilado.

Mauro subiu com as compras, levou o café da manhã para ela na cama. Ficaram quatro dias sem sair de lá. Minto. Ela desceu até o térreo, pegar a mochila verde que a amiga deixou na portaria, e subiu voando, vestindo só a velha camiseta do colégio dele.

Ficaram grudados na cama e na tevê, acompanhando a preparação do Corinthians para a série B, imaginando como seria divertido se ele ganhasse a Copa do Brasil, com direito à Libertadores, ganhasse a segundona, mas preferisse continuar nela, para jogar contra times exóticos, que têm patrocinadores na camisa como PittsBurg, rede nordestina de lanchonetes, Universidade Potiguar, Ótica Alagoas, e jogar num estádio chamado Frasqueirão, em Natal.

Sim, torcem para o mesmo time. Discutiram cada contratação. Apoiaram a camisa roxa, que encomendaram na primeira oportunidade. E não é que ela sabe de cor ''aqui tem um bando de louco, louco por ti Corinthians, pra aqueles que achas que é pouco...''

No Rio, são Flamengo. Gostam do Milan, e não acreditam que Kaká seja esse santo propagado. Gostam do Cristiano Ronaldo. Concordam que o Leão tem um gênio difícil, mas é um grande técnico, e que o melhor técnico o País é do Luxa. E acham ridícula a caça a jogadores com bons dribles, craques como Valdívia e Michael, agora no Coritiba. Sim, ela adora futebol!

Sugerir um cineminha? Que nada. Podiam baixar qualquer filme pelo bittorrent, legendá-lo e assistir na nova tevê de alta definição dele. Ambos preferem filminho na cama.

Maria e Mauro se deram bem em tudo. Assustadoramente perfeita a convivência. Acordavam no mesmo horário, trabalhavam com seus laptops sem saírem de casa. Almoçavam a mesma refeição, no mesmo horário. Tudo se encaixava, tudo era simples demais, tudo era feito em acordo, nada de negociações traumáticas. Tomavam banhos juntos. Cozinhavam juntos. Gostavam da mesma safra de vinhos, das mesmas frutas, do mesmo sabor de Halls.

Em dias, assumiram a relação. Saíram da toca. Enfrentaram a desconfiança da família e amigos. Todos concordaram que ele nunca esteve tão feliz, e ela, completa.

O tempo voou. Fizeram a primeira viagem juntos, Venezuela, que ambos desconheciam. Como dois esquerdistas convictos, amaram. Tiveram a mesma opinião sobre o regime polêmico. Não perderam o bom humor nem quando ele perdeu os passaportes, e foi um rolo a viagem de volta.

O casal nunca discutia. Nunca discordava. Um nunca criticava o outro publicamente. Um dava forças para as esquisitices do outro. As piadas e brincadeiras se encaixavam, só eles riam.

Se ficassem em casa, era a melhor coisa do mundo, se acordassem depois do meio-dia, era a melhor coisa do mundo, se saíssem para comer, sempre acertavam o que o outro tinha em mente. Se fossem dançar, aplaudiam ou renegavam o mesmo DJ.

Você já sacou aonde isso vai dar. Parece óbvio, inexplicavelmente dolorido.

Foi num aniversário de namoro que ela notou que algo a incomodava. Chamemos de o tédio da virtude, perfeição que corrói. Ela nunca dizia o que estava errado. E ele não era adivinho.

Resultado. Ela voltou para ex-marido, que nunca lhe deu estabilidade, em quem nunca confiou. Ele procurou a mediquinha do ABC, que não o perdoou pelo sumiço.

Uma lição simples e precisa se extrai desse caso de amor malsucedido. Sem conflito não há história.

Quem Ama Reclama - 2ª Parte.

Artigo de Marcelo Rubens Paiva


Duas da manhã. O restaurante vazio perdeu a identidade. O último garçom apagava as poucas velas. Os amigos pediram a saideira. Não queriam que aquela madrugada acabasse. Elas aceitaram esticar numa boate.

Mauro e Maria, que todos diziam feitos um para o outro, desligaram os celulares. Ela rompia o acordo recentemente estipulado com o marido boêmio: sempre chegar antes da uma. Ele deixava uma médica do ABC esperando com frio e um estetoscópio na cama.

Maria sabia que o cara era um solto no mundo convicto. Mauro, que ela era casada com um nada a ver. E não estava nada feliz, depois que viram o marido com outra.

Duas consciências pesadas? Não muito. Especialmente quando revelaram as incríveis coincidências de neuroses e manias entre pessoas que acabaram de se conhecer. Especialmente quando ela falou algo com o que ele concordava. Especialmente quando ele esbarrou sem querer na mão dela, para experimentar o vinho. Ao devolver a taça, ela reparou na impressão labial dele na borda do cristal e sutilmente fez questão de encostar os seus lábios na marca. Ele notou. Sorriu, como se já conhecesse todos os truques. Ela disfarçou sem graça; não era para ele ver. Ele olhou seus lábios. Ela gelou de repente. Meu Deus, o que está acontecendo?!, se perguntaram.

''Bora?''

Os amigos apressaram. Pagaram a conta. Levaram duas garrafas de vinho.

Na calçada, listaram as opções: Milo, Clash, Vegas, D''Edge, Inferno, Berlim, CB, Love Story, Kilt, Vagão, Torre do Zero a Zero, 13, Studio SP, Astronete.

''A Lôca...'', alguém sugeriu.

Riram. A Lôca, inferninho surpreendente. O único em que não se consegue prever o que vai rolar, e como pode acabar.

''Já usaram a ponte?'', Mauro perguntou.

''Não. Vamos?'', Maria empolgada gostou da sugestão.

A ponte recém-inaugurada, toda iluminada, com cabos que lembram uma garfada de espaguete, já apelidada de ''estilingão''.

Pararam o carro no acostamento, com o pisca-alerta ligado. ''Vem, não tem perigo'', Mauro puxou Maria. Sentaram no parapeito. Tomaram vinho sobre o Rio Pinheiro fétido. O vento frio ressonava nos cabos. Era como se uma orquestra afinasse antes do concerto. Brindaram a urbanidade tóxica. Só quem mora na cidade vê beleza nas iluminadas intervenções de concreto que aparentemente ligam o nada ao lugar nenhum. ''Parece um sutiã'', ela disse.

Numa Lôca apertada, Maria esbarrou em Mauro. Que respeitosamente a defendeu do empurra-empurra. Dançaram. Se perderam dos amigos. ''Estou indo embora'', ele disse. ''Fica mais um pouco'', ela disse. Mal se escutavam. Ele entendeu o recado. Passou os braços pela cintura dela. Cercados por desconhecidos. ''Vem comigo'', ele disse. Ela colou o seu corpo no dele. ''Não posso'', ela disse. Tinham a mesma altura. Tinham ambos o rosto claro. Tinham ambos olhos pretos, cabelos pretos, lisos. Estavam ambos de azul-marinho. ''Pode sim'', ele disse. E parecia que se conheceram há uma eternidade. ''Em qual mês você nasceu?'', ela perguntou. ''Ótimo'', ele respondeu. E a levou.

Amanhecia, e escutavam Lhasa De Sela no sofá da sala do apartamento dele. O Labrador dourado que os acompanhava era do tamanho do labrador preto dela. Liam o mesmo livro, ela descobriu (Homem Comum). Na varanda, um pé de mexerica era visitado por maritacas. No canto, um canteiro com ervas, chás. Foram pra cama só depois de ela experimentar o seu capim-limão.

Meio-dia. Ela entrou no último carro do metrô. Sentou na última fileira. Ou primeira, quando ele voltar. Triste? Tensa? Emocionada. Encantada. Assustada. Encorajada: sair da trincheira e ir adiante, sob fogo cruzado.

Um encontro desse aparece uma vez na vida. Aparece para se repensá-la e recalcular o plano de vôo. Para derrubar convicções. Seria uma injustiça deixá-lo entre as boas lembranças. A vida é uma só, Maria sabe muito bem. Se algo novo tem a força de apagar decepções que não são esquecidas, é preciso acreditar nas surpresas casuais. É preciso acreditar na evolução.

Abriu o livro que levava na bolsa. Exatamente na cena em que Phoebe, a mulher do protagonista, descobre a amante. ''A mentira é uma maneira vulgar e desprezível de controlar a outra pessoa'', ela diz.

Chegou em casa. O marido estava no sofá, com o labrador preto nos pés. Nem o cão fez festa. Não precisou de meia palavra, já que tudo se revelou. Mentir seria humilhá-lo, pensou. Sim, dormi com outro cara, estou a fim dele. Queria que o marido abaixasse a cabeça e, como um potro vencido por um garanhão que o surrou, deixasse o pasto para curar suas feridas na solidão do vexame. Mas surpreendentemente ele começou a chorar, depois a esbravejar, depois a agredir, depois a xingar.

Ela percebeu que não seria fácil e, pior, que ela é quem teria de partir, se quisesse resumir o presumível.

Com alteridade, enquanto ela enumerava as razões, evitando contar que descobriu o homem da sua vida em 12 horas, ele se dizia injustiçado por um pérfido boato que a traíra. Ela não se alongou. Pegou o essencial, enfiou numa mochila verde e foi para a casa da mãe.

No dia seguinte, ele estava na sala com a mãe, esperando. Mais queixas, pedidos de desculpas, acusações. Mais promessas de um futuro melhor: ''Deixa eu mostrar que sou alguém melhor.'' As confusões se alastraram.

Ela? Pena, muita. Por isso, pegou a mochila verde e foi para a casa da amiga, aquela que o viu com outra. Deixou genro e sogra, indignados. Falando sozinhos.

Outro dia. Ela ficou louca quando olhou no retrovisor e viu o marido a seguindo de carro. Justamente na noite em que reencontraria Mauro. Moleque, pensou! Acelerou, e o moleque a imitou.

Entrou em ruas vicinais, passou faróis vermelhos, ignorou lombadas. E o insistente sem desistir. Ela decidiu parar numa praça calma. Ele parou metros atrás. Ela saiu do carro. Ele, não. Estava apenas seguindo. Não queria conversar nem nada. Ele aumentou a música que tocava no seu som: ''Eu vou tentar, mesmo que eu não ganhe nada com isso, eu preciso salvar o mundo...''

A banda que aprenderam a curtir juntos. Maria não acreditou em tamanha prepotência. Voltou para o carro e arrancou.

Entrou no shopping a toda, parou na primeira vaga, correu até as escadas rolantes, subiu a desligada - dois andares -, saiu pela entrada e pegou um táxi no primeiro ponto. É preciso apostar na felicidade.

Quem Ama Reclama

Marcelo Rubens Paiva (texto publicado no Estadão)



Mauro já tinha ouvido falar dela.

Os amigos diziam: ''É o seu número. Você tem que conhecer.'' Ignorava, soltando a mesma máxima: ''Mulher não é sapato.''

Tocava a sua vida de solteiro com uma certeza que incomodava. Curtia cada minuto da opção escolhida, considerada por ele o extremo de liberdade, e por outros, de intolerância. Apenas poucos amigos infelizes no casamento invejavam.

Ao contrário do que propunham, ele queria nada a sério com alguém de um mundo oposto: uma garota que morasse do outro lado da cidade, como uma operária de Osasco, ou uma cientista maluca da UNB; uma adolescente com aparelho nos dentes, que mascasse chicletes sabor framboesa; a amiga na menopausa da mãe; a garçonete hippie de uma boate punk.

Por que não uma policial militar de patente baixa? Talvez uma africana aluna de intercâmbio da USP, ou uma boliviana bolivariana e chavista, ou uma ex-guerrilheira chilena? Uma contrabandista de tênis piratas, chinesa especialista em comida baiana? Quem sabe a prima distante, vascaína fanática, esquizofrênica paranóica, sonâmbula tarada, obesa, obcecada por Roberto Carlos? Uma fã de cinema chileno, bêbada da Vila Carrão?

Já que a solidão não o afetava, ele gostava de estar com muitas, o que é não estar com ninguém, diziam os amigos, pois não se estabelecem vínculos. Mauro não pretendia aprofundar intimidades, repartir frustrações e medos.

Um sujeito como Mauro vive apenas o trailer da relação. Quando se amanhece junto, há a trama com ações e conflitos - e é obrigado a falar de sonhos da noite anterior -, ele já pensa na desculpa que dará, para que o amanhã seja sempre outra sessão.
Maria não estava bem no casamento. Foi um pesadelo quando as duas amigas contaram que viram o marido boêmio com outra. Mas era ele mesmo? Uma tinha certeza, a outra, não. Maria reclamou, chorou. Bem que a alertaram: ''Ele não presta, sai fora, você merece coisa melhor.''


Como para ela o homem da sua vida não era ''coisa'', ouviu-o negar. Ela conhecia as fraquezas humanas. Tolerante, e sem 100% de convicção, perdoou, sem nunca ter perdoado de fato, se é que você entende.

Estabeleceu regras. Ele nunca mais chegaria depois da 1 hora. Beberia apenas socialmente. Acordariam juntos de manhã, para correr no Villa-Lobos. Viajariam nos fins de semana para pousadas que ela escolheria. E, sim, mudariam os armários da cozinha, promessa de casamento nunca cumprida. Ele poderia jogar a pelada de terça-feira, dia em que ela sairia para beber com as duas amigas. Mas ambos, antes da 1 hora, em casa!

Claro que ela sabia muito bem que um casamento não se sustenta por estatutos, obrigações difíceis de serem realizadas, e que a confiança foi arranhada. Claro que Maria sabia que novos armários na cozinha não bastavam para limpar uma mancha do passado. Mas era preciso acreditar na evolução. O homem era dela, ela nunca teve certeza da traição, iria continuar com o que se propôs quando se juntaram.

Terça-feira. No bar. Com as duas amigas, Maria viu Mauro, o cara que diziam: ''O seu número.'' Elas apontaram, é aquele do canto, sentado na última mesa, com dois amigos. Pareciam entorpecidos, pois gargalhavam. Bebiam dry martini. Maria acha ridículo homem que bebe dry martini, bebida de tia. Ela observou espantada: ''É esse aí?!''

No começo, não sentiu nada por Mauro. Mas as amigas não paravam de falar quanto era gostoso, charmoso, divertido, interessante, ligeiramente arrogante, desleixado, desarrumado, desencanado. Exatamente do jeito que ela gostava.

Então, Maria se levantou. As amigas riram, tímidas. Esticou as calças, jogou os cabelos pra trás e foi ao banheiro. Ficou de frente pra ele, que nem reparou nela, apesar dos dois amigos a olharem de baixo pra cima e a cumprimentarem.

Mauro estranhou os amigos pararem de rir. Estava entretido com um torpedo que acabara de chegar. O que foi? É ela. Ela está aqui. Quem? Ela, Maria, o seu número.

Odiava tal insistência. Acabara de receber um torpedo irresistível, uma dermatologista de Santo André convidando-o para uma noite completa: consulta na cama.

Maria voltou do banheiro. Eles se arrumaram na cadeira. Interromperam. Apresentaram Mauro. Os dois se deram as mãos sem convicção. Ela o achou um pouco blasé. Ele achou a mão dela fina demais. Ela se foi, e os três olharam, a examinaram. Os amigos voltaram a falar que Maria foi feita pra ele. Tinham tudo a ver. Deviam conversar, se conhecer.

Meia-noite. O restaurante esvaziou. Os três foram se sentar com elas. Claro que deixaram o casal hipoteticamente perfeito se sentar no mesmo canto.

Foi Maria quem puxou assunto, enquanto ele recebia uma intimada da dermo: ''E aí, você vem? Estou na cama com frio.'' Ele respondeu que esperava o trânsito melhorar, e Maria achou um absurdo o cara trocar torpedos, enquanto ela tentava um diálogo.

Mas foi Mauro abrir a boca, para ela sentir uma tremedeira nas pernas. Pois a sua voz rouca ressonou, e um hálito doce, alcoolizado e estranhamente perfumado a envolveu. ''Desculpe, estou sendo mal-educado, mas recebi uma mensagem, o que você disse?''

Ela ficou na dúvida entre mandá-lo plantar inhame-nambu, que dizem fazer bem para o estômago, deixar uma grana in cash, se levantar e ir pra casa encontrar o marido, com quem combinou não mais chegarem depois da 1 h, ou lhe dar a humilhante oportunidade de recuperar a atenção. Pediu outra taça de vinho. Por que tomou a segunda atitude? Porque ninguém entende os truques que o destino oferece; e a voz da inconsciência decide.

Os amigos conversavam entre eles. Maria didática retomou o assunto. Ele abriu os olhos, sorriu e falou algo com o que ela concordava. Assustador: a vida toda ela achava que só ela pensava naquilo. Encontrou um aliado. Começaram a falar. Não pararam.

Elas abriram outra garrafa de vinho. Eles continuaram no dry. Mauro e Maria trocaram opiniões semelhantes. Riam das coincidências de sentimentos, neuroses e manias. Ela olhou o relógio e pediu a Deus que fosse cedo ainda. Nada disso: uma e dez. Ela acabava de romper um pacto. Discretamente, desligou o celular e o deixou bem no fundo da bolsa. Ele fez o mesmo.

A cozinha fechou. As mesas, vazias. Restou apenas um garçom. Ficaram ainda até as 2, no maior papo. Até os três convidarem as três para irem todos dançar numa boate. Elas se olharam. Por que não?

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Out



"Embriagai-vos:
É necessário estar sempre bêbado.
Tudo se reduz a isso; eis o único problema.
Para não sentirdes o horrível fardo do Tempo, que vos abate e vos faz pender para a terra, é preciso que vos embriagueis sem cessar.
Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, a vossa escolha.Contanto que vos embriagueis.
E, se algumas vezes, nos degraus de um palácio, na verde relva de um fosso, na desolada solidão do vosso quarto, despertardes, com a embriaguez já atenuada ou desaparecida, perguntai ao vento, à onda, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai-lhes que horas são;e o vento, e a vaga, e a estrela, e o pássaro, e o relógio, hão de vos responder:É hora de se embriagar!
Para não serdes os martirizados escravos do Tempo, embriagai-vos;embriagai-vos sem tréguas!De vinho, de poesia ou de virtude, a vossa escolha."

Charles Baudelaire




"Se for tentar, vá até o fim. caso contrário nem comece.Isto pode significar perder garotas, esposas, parentes, empregos e, talvez, sua mente.Pode significar ficar 3 ou 4 dias sem comer, congelar num banco de um parque, pode significar cadeia, pode significar menosprezo, pode significar zombaria, isolamento. Isolamento é a dádiva, todo resto é um teste de sua persistência, do tamanho de sua vontade. e você fará.Apesar da rejeição e das piores probabilidades e será melhor do que qualquer coisa que possa imaginar.e se você for tentar, vá até o fim. Não há sensação como esta. Você está a sós com os deuses, e as noites resplandecerão com fogo.Você encaminhará a vida para o sorriso perfeito
É a única boa luta que existe.


Henry Chinasky.

domingo, 3 de maio de 2009


"Abençoados os esquecidos que aproveitam até mesmo seus equívocos."

sábado, 2 de maio de 2009

Voando de volta.



As vezes a gente reluta tanto pra querer ter certas percepções que ja teimavam em se mostrar tão claras, que tudo o mais vira razão pra tornar a relutar sobre certo objetivo. Acho até que quando tal objetivo torna-se desejo comum, este deveria unir as vontades e transforma-la em algo maior, uníssono.
Mas as vezes essa vontade não torna as coisas simples, e as formas de concentar tal esforço não vale, não valem. E tudo vira ambiente de Dante, as coisas tornam-se então impossiveis, e a oração que fora carregada em conjunto pelas mãos, torna-se apelo pra que tudo passe logo...
Cansei não nego.




É Foda

Só quero retomar minhas ironias e escrever um post que preste.