sexta-feira, 22 de outubro de 2010

A leveza e o peso.



Pesado. Sentia-se pesado, e era um peso vindo de todos os pesares guardados consigo mesmo.
Encontrava na lembrança os 52 kg bem distribuídos, podia sentir o peso do seu corpo quando jogava-a na cama, sentia o lado esquerdo do carro afundar com o banco do passageiro sendo ocupado. Tinha noção exata do que aquela proporção causava fisicamente no seu espaço. 
Mas era um peso que fugia disso, tinha dez vezes mais quando era sentido de forma intangível. Sentia seus olhos sobre ele e sentia-se pequeno, minimo, quase imperceptível. O peso dos seus lábios um dia colados nos dele, tinha o peso doce, que acariciava sutilmente seus lábios e aguçava o despertar da imaginação de seu próprio corpo afundado junto ao dela no colchão, formando um peso só, uma medida. 
Sentia ainda o vulto das passadas ao seu lado, o território imaginado que ocupavam juntos, o peso dos dedos pesados e entrelaçados uns nos outros, o peso do sorriso e das conversas, da cumplicidade que criaram e que nem um dia deixou de ser o peso leve que somava os dois.
Ficou todo o tempo que pôde lembrando disso, e ouvindo o peso das canções em seus ouvidos, o peso dos seus próprios olhos revelava-se amargamente entre um rosto pálido e cabisbaixo. 
O peso da saudade e da lembrança é tão grande quanto qualquer outro pensamento que possa tornar-se tão especial.
Estava agora de olhos fechados, balançando seu peso e procurando em algum lugar com o peso do mar as únicas lembranças que ainda poderiam deixa-lo pelo menos um pouco mais leve.

domingo, 3 de outubro de 2010

_Desejo passar o resto da minha vida com você; _Não, uma vida com você nunca será resto.


Não há o q me preocupar com as fases. Não busco novas fases ressaltando a importância de algo q não me acrescente. Eu preciso me acrescentar, preciso estar crescente.
Se houve alguma vez algo q foi dito sem a certeza do feito, é questão de especulação. Já disse: Eu busco o q me acrescenta, e se não for pra ser assim, não é minha escolha. 
Quando conheci você, foi justamente nas proporções de soma q as suas possibilidades me trouxeram. E somamos. E com essas somas eu multipliquei minhas realizações. Sou o efeito do q você me trouxe. Sou feito por parte de você.
Quando houve a duvida do ato q nego com veemência (pois deste eu realmente me apartei), ri sozinho pro reflexo do meu sorriso no espelho. Ver em alguem a possibilidade de expor um desejo fútil e corriqueiro, é subtrair das minhas partes o q já resultamos juntos. E venho sentindo falta disto.
Perfeição não é meu estilo, e é bom q você conhece isto. Nisto aprendemos juntos. Porquê sei q não passa pelo seu estilo também o desenho simétrico.
Sou o q você me encaixou na tua vida como uma regra matemática bem definida, e quero me manter assim, buscando nas contas de nossas vidas, tudo o q os resultados finais possam deixar sem duvidas, amparados pelas regras, q tudo o q me dispõe, resulta no meu amor por você.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Olhar de passarinho.


Bem queria estar atento às tuas asas quando ventou forte no nosso ninho. Com os olhos atentos no céu, procurava enchergar a tua distancia de mim. Cada vez mais longe e mais veloz, nada impedia que teu caminho estivesse livre e receptivo.
De longe sem vontade de seguir o plano, meus olhos se apertavam no costume do lembrar. Lembrava de tudo, e tudo ainda era tomado por base no teu nome, na tua vontade, nas nossas horas. 
"Situação natural", bem alertou você, e eu sabia. Sabia que com tantos deselances nossa vida seria tomada por rumos que roíam a corda que prendia nossos barcos em um porto. Talvez ainda sentido o cheiro da madeira no amadeirado do meu perfume, teus olhos ainda cheguem a brilhar de saudade, nem mesmo q seja em uma fagulha, uma faísca. E lá de longe, onde suas asas agora são beijadas pelas nuvens, num desenho qualquer pelo vento, meu nome apareça no teu caminho e você se lembre, e solte o brilho guardado por detrás dos seus olhos na minha direção, e eu mesmo tão distante ainda estarei te olhando, esperando por isso.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Você me avisar, me ensinar, falar do que foi pra você...


Com a cabeça nas nuvens que agora estavam cinzas e o abraço apertado ao corpo dela, Carlos tentava entender naquelas palavras tão pesadas que ouvira há alguns minutos, as coisas como elas realmente eram. Carlos sabia que por mais que insistisse tentar entender os sentimentos que agora povoavam o coração de sua amada, não conseguiria se colocar no lugar dela de forma tão consciente e honesta.
Depois de alguns instantes onde eles eram apenas eles e nada mais, Carlos baixou suas armas e abriu seus ouvidos, estava ali para entender justamente aquilo que vinha buscando.
As coisas nunca foram fáceis, é verdade, mas Carlos ainda recebia nos seus olhos tudo aquilo que veio se acumulando desde o primeiro instante em que a viu, e não era aquilo que ela realçava com o peso aveludado do que ouvia. Era algo a mais, e embora fosse o suficiente para ficar por ali durante o tempo que precisasse, Carlos tomara a decisão de seguir o último instante e respeitar aquilo que o peso das coisas ruins têm de ter, era assim que deveria lembrar de tudo, era assim que deveria esquecer daqueles minutos onde escolheram serem apenas eles. 


_...vai lá, pessoa de verdade, entra por este portão de verdade, abre aquela porta de vidro de verdade, aperta o botão do elevador de verdade e suba de verdade...
_...ainda bem que eu sou de verdade...
_... acho que se não fosse eu te inventaria.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Persistencia da memória.


 
22 horas seguidas. Começou na segunda, às 08. Acabou ás seis. As piores vieram depois da meia noite. Hoje foram as piores. Não acabava porque não tinha sono pra acabar com isso. Era você aqui e ali. Você dormia na minha cama, eu lembrava. Lembrava de tudo. Você aqui e ali. Cabeça encostada na parede e a garrafa de Lambrusco vazia. O Bruno ali no colchão deve estranhar vendo essa cara inchada. Tentei disfarçar quando sentei na área, achei q a ligação disfarçaria, mas só desabou mais. Mais Lambrusco na garganta, efeito ineficaz. Era você aqui e ali, no meu rádio. Queria desligar o rádio, mas você estava nele. Não queria desligar vc. Por isto foram 22 horas seguidas. 22 horas seguidas com você ligada e me fazendo cantar.
Ainda durou um pouco mais. Olhando o mar calmo da minha janela, tudo ainda durou um pouco mais. Podia lavar os pés cheios de areias de qualquer um que vinha dali. Era só usar um lenço e torcer.
Me derrubou. Queria que tivesse sido só pelas 22 horas mesmo. Mas vão vir outras.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Num jeito de te levar...


As certezas podem não ser suficientes se não forem limpas pelas dúvidas.


As histórias escritas em livros sempre tendem a ser inspiradoras. 
Certo dia lendo alguém que gosto muito, deparei-me com a frase do não desejo de ser inspirador. Mas é, e sabe que é.
Quantas vezes eu já cantei de olhos fechados no sofá da minha sala esperando que você visse isso...As alegrias do meu tom de voz misturadas com a melancolia alternativa das canções que arranhavam a agulha do disco. 

Há tanto que me preocupar...mas da distância já venho cuidando, e cuido com meus olhos te seguindo distantes pela janela do ônibus.
Me perco com o pensamento distante observando vc, e a lua que vejo me faz perceber quantas outras ainda caberiam nesse meu céu construído por vc.

Se figurada a tua ausência no meu fim de semana, tarde da noite saturnina a alavanca da imensidão é puxada, e em meio ao vão percebo quantos passos já dei ao longo da areia, e faltam tantos...faltam tantos dos teus...
Posso perceber tão fácil as coisas que não quero perceber, posso jogar tantas palavras fora, saber se sou rei nos meus contos onde meu reino se abriga no teu abraço. Sou tudo contigo.
Sou todo contigo.

As histórias contadas no livro ainda são poucas, vou fabricar ainda mais páginas, vou perfuma-las e joga-las ao vento, sabendo que todas irão cair na tua janela, irão cair beijadas pelo vento, atentas ao teus olhos.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Deslizando meu sorriso no teu nome.


Estava sentado em frente a ela tentando imaginar teus suspiros.

No interior dos teus vestidos minha cobiça passeia, relaxa meus ombros em tuas pernas. Nossas imaginações constantes, confusas e deliciosas predominam o ambiente trancado com as roupas que jogamos à beira da porta, à meia luz interpretamos cada sinal emitido, e sua nuca molhada com meus beijos agora traz consigo a marca leve de uma mordida.
Abrimos a imensidão do céu, quando teu sapato pisou na minha bermuda, e minha camisa deslizou ao abismo abaixo da cama. Rendas e algodões enfeitando o ambiente perfumado com os toques palpados sem a preocupação da dor, e o prazer escancarado nos meus olhos serve de caminho para tuas vontades.
As paredes escondem-se de nós, estamos passeando em uma caixa invisível onde a paisagem passa rápido como num passeio veloz. Há um destino final neste caminho, mas meu torax pesando nas tuas costelas regam teu corpo com o suor que desliza quadril abaixo, onde os movimentos desatinados e embalados aos teus pedidos renega qualquer chegada breve ao fim disto.

Meus sinais indicam saudade, talvez seja essa a interpretação obtida no reflexo do espelho onde agora moram nossos nomes.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Motivos nossos.

 
Há uma centena de motivos pra ser como sou, mas apenas um é suficiente pra escrever pra vc, e talvez esse seja o principal para q todos os outros possam nascer.

Entre as coisas que me perguntam em alguns dos dias de menos sol, a maioria são justamente as que não quero responder. Essa falta de sol me afeta, me deixa sonolento, e nada me agrada mais, nem pesssoas que perguntam, nem pessoas que ficam caladas.
Tudo o q vai passando é rápido, os meses me disseram isso, e das nossas noites sentadas no Empório discutindo sobre tudo, eu tenho saudade. Sabe como é, sou passional mesmo, e vc entende isso. Losers, vc disse, ainda q isso nem combine muito com essas roupas mais bonitas que precisamos comprar pra vestirmos pra nossas lindas garotas.
Posso deixar meu copo meio vazio em cima da mesa, e me abraçar na garrafa do vinho. Tenho estado muito bêbado ultimamente, tenho falado muitas coisas, mas isso me deixa tranquilo. 
Aqueles dias que eu cheguei falando com alegria das coisas que deixaram vocês tristes me maltratam, sinto falta de mais um sorriso aqui, e isso me incomoda. Preciso de mais um sorriso q não é meu no meu rosto. Não foi por mal. Gosto de vocês, gosto muito. Espero q a tempestade passe.




Mas agora sentindo o cheiro dessa camiseta, eu penso nela que me deixa esperando ansioso, e
quando ela chega de longe e me abraça, eu penso nas centenas de motivos pra tudo o q eu quero expor rápido, meu raciocinio as vezes me deixa de plantão buscando no silencio aquilo q eu quero q ela entenda, e ela finge entender, mas finge tão mal quanto eu, e resolvemos tudo em um beijo, dele nasce o motivo, aquele que vai trazer todos os outros no bolso, e passo a gostar ainda um pouco mais.

Sou passional, eu bem disse, antes eu ainda tentava esconder, mas essa casa é pequena demais pra isso.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Lucidez.


Estive tanto tempo confuso, que, quando a oportunidade veio, peguei carona sem querer.

Nunca estou neste estado. Lucidez é talvez a minha tentativa de estar em silêncio na areia da praia, olhando e ouvindo o mar. Mas é inconstante. Inconstante demais. Nem por isso menos repetitivo e bom.
Quase todas as desatenções que tenho durante o dia, são coisas que me interessam muito. Saber como é ao certo o rosto de alguém que diz não possuir um, saber como é a voz de alguém que manda flores de longe, perceber qual a opinião de alguém que não sabe, mas, sempre foi decisivo nas minhas decisões.

Hoje mal pude cantar outra música que não fosse Malcuidado. Eu até sei, nem tem muita gente q gosta tanto assim, mas isso é o q me faz gostar mais ainda. É como o seu presente que tenho aqui, muita gente não gosta tanto assim, mas o fato de saber que vc gosta dele, me faz gostar mais ainda. É disso que eu tô falando...

Eu disse, peguei carona ali. Sentado na terceira fileira do fretado, peguei carona no corredor que me separava dela. Quando percebi, não estava mais pegando carona no ônibus, mas sim, ao lado dela. A viagem se resumia a isso, em aproveita-la desta maneira. Em aproveitar mais a mim mesmo desta maneira. Já faz algum tempo isso, e hoje podemos nos dar ao luxo de pegar carona somente um no outro.

Quanto à lucidez, não sei se é isso q me bate agora, quando fico pensando se gosto mais das de listras azuis ou vermelhas com aquela bermuda, talvez devesse esperar sua opinião, mas vc viria rindo e certamente dizendo de longe: Ta loco! Eu quero é vc sem camisa. Ta bom. E me vejo rindo das minhas costelinhas aparecendo no espelho enquanto vc me abraça.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Coisas daqui e de lá.



Ele sabia que a única verdade naquilo tudo, seria a sua vontade de recolher todas as más impressões deixadas nos dias anteriores, que ficaram ali, marcando com sua tinta tal qual os rabiscos no calendário.
Havia nisto muitas possibilidades.
Sua marca registrada era o impossivel, e o impossivel neste momento era corresponder de forma igual à dela. Todos os minutos passados com ela teriam todos os motivos pra fazer dele um cara satisfeito. Suficientemente satisfeito.
Mas nem sempre é assim. Como dúvidas com senso esquecido, a pretenção era satisfazer o real, submeter suas mãos às dela, deixar que o mesmo tamanho das mãos completassem aquilo que deveria nascer na alma. Mas quando tudo é bom demais, torna-se dificil demais. Complicar é sempre mais fácil.
É isso o q ele tem feito com suas perguntas, dúvidas, incertezas.Tem tornado aquilo q deveria lhe fazer o cara mais feliz destes canais, algo complicadamente fácil.
São coisas dele. Só dele.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Lembrando do céu.



Entrei nas pontas dos pés pra não fazer barulho. Sabia que toda aquela rotina seria incomum.
As portas abertas davam entrada pra luz, que batia no espelho e cegava a tela da Tv. Eu devia ter imaginado do quanto gostava de ficar sem ver a Tv, e desligar o som foi prazeroso. 
Prazer: Era exatamente o que estava buscando, com as mãos tocando agora seu pescoço, enquanto seus olhos se concentravam na rua. 
Minha mão passeava e voltava pela tua cintura, enquanto a outra ia desenhando todas as suas curvas nos meus olhos fechados. Beliscava de leve tua orelha com minhas mordidas, seu pescoço aveludado recebia com arrepios o toque quente da minha língua molhada.
Quando começaram as gotas de chuva, mal percebi o bafo quente que embaçava o vidro. Meu corpo e o seu escorregando pela porta, às vistas dos vizinhos, que desenganados pelo vapor chuvoso não percebiam a dança mal ensaiada na sala.
O tic-tac do relógio manifestava a pressa, a hora que se aproximava e trazia a despedida necessária. Enquanto me concentrava agora nas tuas pernas, teu corpo escorregava no meu, marcando minha pele com a força das suas mãos.
Calados e presos nos nossos suspiros, toda a cena desenhada naquela tarde ia marcando o compasso dos nossos desejos mais íntimos, regados pelo barulho da chuva no telhado, embarcados no expresso prazeroso de outr'ora(...)

segunda-feira, 5 de abril de 2010

E renasce aqui, de vc.


Fazer renascer as palavras, as velhas vontades, dar novos sentidos às musicas que pareciam já ter gastado todos os próprios sentidos.
Lançar pro teu ouvido cada viagem, cada palavra desenhada na minha cabeça, construir com elas nosso mundo, nossas loucuras, nossas escadas.
Abafar num ritmo lúcido, mas imprevisivel os movimentos generosos do encaixe perfeito. Encaixe perfeito nascido a partir de cada beijo lançado.
Ter a certeza de que os rótulos desenecessarios não trazem seus pesos na proporção contínua do que cresce sem as preocupações corriqueiras e expressas no apertar das mãos.
Posso cantar contigo meu beijo mudo, e te fazer ouvir todas as coisas que quero te fazer prestar atenção. Ler no teu sorriso de olhos apertados tudo o que eu já tinha deixado de lado, sem precisar me preocupar com nada. Contigo é exatamente nisso em que as minhas preocupações se resumem: Em nada. 
Corto contigo a areia da praia onde nasce nossos nomes, onde a lua abençoa com teus olhos a vibração mais do que intensa nascida de nós dois.
E tudo em volta parece estar familiarizado com as despreocupações que esta soma traz ao que já parece ser um pedaço natural da paisagem no inicio da noite caiçara, às margens do som trazido pela maré.


Pois é, to tentando.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

O amor não acaba - Marcelo Rubens Paiva


O amor acaba? O cara disse. Numa esquina, num domingo, depois do teatro e do silêncio, na insônia, nas sorveterias, no elevador, como se lhe faltasse energia. Tenho dúvidas. Ele não volta? Não deixa rastro? Não renasce? Volta.



Na esquina em que se beijaram uma vez, lá está ele, na sombra perdida pela luz, na poeira suspensa, na revolta da memória inconformada. Uma lembrança. Na solidão do domingo, lá vem ele, volta, com lamento, um quase desespero, e penso nos planos perdidos, que vida sem sentido... No teatro, no palco de história de amor, no cinema, na tela com beijos e risos, na TV, que inveja... Já tive um amor igual.


Onde ele se escondeu? E, pior, por que? Na insônia o amor cai como uma tonelada de lápide, e se eu tivesse feito diferente, se eu tivesse sido paciente, e se eu tivesse insistido, suportado, indicado, transformado, reagido, escutado, abraçado? Seu choro, no meu ombro, foi tão recusado. Na sorveteria, ele volta, o amor em lembrança. Porque aquele sabor era o preferido dela, aquela cobertura era a preferida dela, aquela sorveteria era a preferida dela, assim como aquela esquina, aquele bairro, aquele clima, aquela lua, aquele mês, aquela temperatura, aquela raça de cachorro atravessando a rua, aquele programa de fim de tarde e aquele horário sem planos para noite. Ela adora ficar na cidade no feriado, torce para barreiras e pontes caírem, e ninguém voltar nunca mais. Uma cidade só pra ela, um bairro, aquela rua, a sorveteria. Aquele cachorro brincando com ela. E eu só pra ela. No elevador, quantas saudades daqueles segundos de silêncio, presos na caixa blindada, vigiados por câmeras camufladas, loucos para se agarrar e, rirem, apertarem todos os botões, tirarem a roupa, escreverem ao lado do Atrasado: "Eu te amo". Saudades é amor. Não se tem saudades do que não se ama. Ou amou.


O amor não acaba, porque eu tenho saudades, me lembro dela todos os dias, me preocupo com ela, torço por ela, e se sonho com ela, meu dia está feito. O amor não pode acabar, porque sem ela ou sem a esperança de revê-la, até a chance de tê-la de volta, minha guerra não tem fim. Ela é uma trégua na minha guerra pessoal contra minha paixão por ela. Amá-la me faz bem. Mesmo que ela não me ame. Amo amá-la. Continuei amando desde o dia em que terminou. Passei meses amando como se não tivesse acabado. Ficaria anos amando mesmo se não tivesse voltado.


O amor não acaba, muda. O amor não será, é. O amor está. Foi. Nas tantas músicas que ouvimos juntos, que dançamos colados, trilhas das noites frias em que você sentava em mim nua, enquanto meus braços imobilizavam os seus. Amor. O não-amor é vazio. O antiamor também é amor. Nas minhas mãos frias aquecidas pelas suas. Eu te amava quando você respirava no meu ouvido. Amo-te, amo-te, amo-te. Suor naquele instante secreto, quando sua boca incha, seus olhos apertam, suas unhas me arranham e você diz, com tanta verdade: Eu te amo!


O amor acabou quando você se foi? Fala a verdade... Vocês sentiu saudades das minhas paredes, das cores das minhas camisas, da umidade da minha boca, do cheirinho do meu travesseiro, da minha torrada com mel, do meu endereço, das tantas noites pelados assistindo á televisão, dos vinhos entornados no lençol e pelo chão, de café da manhã com jornal, do lanche improvisado, você sentiu falta de atravessar a avenida comigo de mãos dadas, de correr da chuva, de eu te indicar aquele livro, do cinema gelado em que vimos aquele filme sem fim, torcendo para acabar logo e ficarmos a sós, você sentiu falta da minha risada, da minha inconveniência, da minha mancha, de eu ser seu amante, seu noivo, seu amigo e marido, dos meus olhos te espiando, dos meus dentes te mordendo e mastigando, ficou tanto tempo longe de mim e pensou em nós todas as madrugadas, especialmente bêbada e louca, queria me ligar, me escrever, meu cheiro aparecia de repente, meu vulto estava sempre ali presente, acaba? Diz que acaba.


Como acaba? Não acaba. Repete. Falei. Não acaba. Pode virar amor não correspondido. Pode ser amor com ódio, paixão com amor. Pode vir em muitas embalagens e tamanhos. Só tenho uma certeza. Tem o amor e o nada. Ah, mais uma coisa. Antes que eu me esqueça. O amor não acaba. Vira. Sorry. Se acabar, não é amor."

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Passou este verão, outros passarão. Eu passo.




São poucas as oportunidades de escolher algo entre tantas coisas que vc gosta.
Se alguém chega despertando todas estas coisas, então a possibilidade de vc ficar confuso torna-se maior.
As coisas passam a desvalorizar seus próprios sentidos, e não existem mais regras que atordoam o tempo e assim, encolhem qqr tipo de culpa. Essa é a parte que mais gosto. Não ter regras e não ter culpa.
Quando algo está sempre prestes a acabar, a culpa torna-se um luxo desnecessário.
Eu sei que tudo isto estava previsto desde aquela tarde no ponto de ônibus, desde aquele cigarro na orla. Nem percebemos a hora q vinha sem nos deixar programar o menor desvinculo necessário. Mas ela chegou e atropelou nossa noite de sexta feira. A derradeira. Ainda podemos aproveitar nossos clichès e deixa-los gravados num ultimo fim de semana possível.

Sairemos soltos assim, presos um ao outro.

Obrigado por tudo.