Encontrava na lembrança os 52 kg bem distribuídos, podia sentir o peso do seu corpo quando jogava-a na cama, sentia o lado esquerdo do carro afundar com o banco do passageiro sendo ocupado. Tinha noção exata do que aquela proporção causava fisicamente no seu espaço.
Mas era um peso que fugia disso, tinha dez vezes mais quando era sentido de forma intangível. Sentia seus olhos sobre ele e sentia-se pequeno, minimo, quase imperceptível. O peso dos seus lábios um dia colados nos dele, tinha o peso doce, que acariciava sutilmente seus lábios e aguçava o despertar da imaginação de seu próprio corpo afundado junto ao dela no colchão, formando um peso só, uma medida.
Sentia ainda o vulto das passadas ao seu lado, o território imaginado que ocupavam juntos, o peso dos dedos pesados e entrelaçados uns nos outros, o peso do sorriso e das conversas, da cumplicidade que criaram e que nem um dia deixou de ser o peso leve que somava os dois.
Ficou todo o tempo que pôde lembrando disso, e ouvindo o peso das canções em seus ouvidos, o peso dos seus próprios olhos revelava-se amargamente entre um rosto pálido e cabisbaixo.
O peso da saudade e da lembrança é tão grande quanto qualquer outro pensamento que possa tornar-se tão especial.
Estava agora de olhos fechados, balançando seu peso e procurando em algum lugar com o peso do mar as únicas lembranças que ainda poderiam deixa-lo pelo menos um pouco mais leve.