terça-feira, 23 de dezembro de 2008

A mulher Ideal



A mulher ideal sempre esteve muito clara na mente de Carlos.Ao longo dos anos, essa mulher sofreu algumas modificações, ou aperfeiçoamentos como ele prefere dizer, mas nunca fugiu de sua origem.

Além de bela, ela é inteligente. Ao contrário de outras mulheres cultas que já namorou, não é arrogante e elitista. Pelo contrário, é uma parceira compreensiva e extremamente humana. O seu maior traço é a humildade.
Despojada, consegue ficar estonteante com um All Star sujo, uma blusa branca da Hering e uma calça jeans das Pernambucanas. Não precisa de maquiagens fortes e roupas extravagantes para chamar atenção. Seu melhor perfume é o cheiro da sua pele.

É volúpia, mas apenas na intimidade. Consegue fazer loucuras na cama e demonstrar total experiência quando o assunto é sexo, sem que isso a torne vulgar. Apaixonante, satisfaz Carlos por completo, anula a tentação do adultério.

Independente, trabalha fora e conquista com facilidade seus planos profissionais. Leva uma vida estável. Demonstra através de pequenas atitudes como é fácil alcançar a felicidade.

Sabe preparar um almoço especial, um café da manhã caprichado, um jantar inesperado. E mesmo assim, nem de longe lembra aquelas mulheres submissas, que sentem prazer em ser Amélia, em fazer sacrifícios pelo marido. Consegue fazer tudo com prazer.

É versátil. Assiste apresentações de grandes orquestras e de bandas de punk rock, é fã de cinema e de peças teatrais, mas também adora ficar em casa, apenas curtindo a companhia do parceiro.

Sob os lençóis da cama, com a cadela de estimação aos seus pés, fica durante horas abraçada com Carlos, trocando caricias e palavras de amor. Atinge o nível ideal de intimidade, consegue alegrá-lo com programas triviais, como um passeio matutino pela orla da praia. Não precisa de programas mirabolantes e luxuosos para manter o calor do namoro. Transforma a tal da rotina, tão criticada pela maior parte dos casais, em algo nostálgico e charmoso.

Para Carlos, seu único e grande defeito é o fato dela não existir. Pelo menos, por enquanto. Já tentou encontrá-la em filas de banco, nos corredores dos supermercados, em mesas de bar e no corre-corre da maior metrópole da América Latina. Mas até hoje nunca a encontrou. É como se estivesse sempre de costas, na direção contrária. É como se estivesse sempre distraída, alheia ao destino preparado para ela. Como se não quisesse ser descoberta.

Cansado, Carlos foi deixando de lado seu ideal. Seu Muro de Berlim desabou. Para os amigos o seu nível de exigência foi sempre muito exagerado. Não que eles também não desejem uma mulher interessante, que ultrapassasse o senso comum, o habitual. Mas esse desejo nunca os impedira de sair com mulheres superficiais.

Agora, Carlos leva uma vida sem grandes expectativas. Não se preocupa em encontrar uma cara-metade. Só deseja se divertir. Sai com os amigos, toma a sua cerveja, fuma o seu cigarro de forma despretensiosa. Seu olhar indiferente, distante, já se tornou uma marca. E as mulheres gostam. É uma questão de honra descobrir por que aquele homem é tão diferente.

Evita relacionamentos duradouros e sólidos. Só vive de relações fugazes. Nunca se envolve com as mulheres mais de uma vez. Não as leva para a sua casa, evita qualquer atitude que possa indicar cumplicidade.

Viverá desta forma até que o famoso quadro que agora vive nas profundezas dos seus desejos, possa se transformar numa forma que o leve a entender que tudo é apenas questão de sorte.Muita sorte.

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