Entrei nas pontas dos pés pra não fazer barulho. Sabia que toda aquela rotina seria incomum.
As portas abertas davam entrada pra luz, que batia no espelho e cegava a tela da Tv. Eu devia ter imaginado do quanto gostava de ficar sem ver a Tv, e desligar o som foi prazeroso.
Prazer: Era exatamente o que estava buscando, com as mãos tocando agora seu pescoço, enquanto seus olhos se concentravam na rua.
Minha mão passeava e voltava pela tua cintura, enquanto a outra ia desenhando todas as suas curvas nos meus olhos fechados. Beliscava de leve tua orelha com minhas mordidas, seu pescoço aveludado recebia com arrepios o toque quente da minha língua molhada.
Quando começaram as gotas de chuva, mal percebi o bafo quente que embaçava o vidro. Meu corpo e o seu escorregando pela porta, às vistas dos vizinhos, que desenganados pelo vapor chuvoso não percebiam a dança mal ensaiada na sala.
O tic-tac do relógio manifestava a pressa, a hora que se aproximava e trazia a despedida necessária. Enquanto me concentrava agora nas tuas pernas, teu corpo escorregava no meu, marcando minha pele com a força das suas mãos.
Calados e presos nos nossos suspiros, toda a cena desenhada naquela tarde ia marcando o compasso dos nossos desejos mais íntimos, regados pelo barulho da chuva no telhado, embarcados no expresso prazeroso de outr'ora(...)