...Entrou no metrô e percebeu a menina no banco da frente sentada, vestindo uma sandália rosa, e um vestido de estampa.
Mas estava mais preocupado em ir pra casa e descansar, pensar em qual filme iria assistir na noite do sábado, e qual vinho iria comprar para se embriagar sozinho.
Não notou o sorriso nos lábios entreabertos da garota, q ia aproveitar a vida em mais uma festa com os amigos. E mesmo, se tivesse parado pra olhar a garota por duas ou três estações, não iria notar o seu sorriso. Não era de seu agrado naquela hora , o sorriso de um sábado festivo.
Era uma escolha egoísta e sem graça.
Tinha a ambição de querer afundar em seu sofá, com amendoins japoneses espalhados por seu tapete, pelos chinelos alinhados á porta, pela boca q ecoava o sono quarto a dentro. Não queria senão repetir a mesma sensação desprovida de emoção escolhida para si mesmo.
O Inverno lhe afetava. E gostava disso.
Pensava q em determinados momentos encontrava melhor a si mesmo quando estava sozinho. Não tinha os problemas com as diferenças regadas pela sua ex namorada. Não tinha as preocupações q lhe enquadravam no ambiente familiar de seu ninho inicial.
Tinha saltado em voo, era dono de si mesmo.
Podia fazer as escolhas.
E aquela paz superficial e vazia era a sua escolha.
Sua cabeça navegava á vontade dos mares.
Sonhou com algo q lembrava um bordado pequeno em formato de flor, que se encaixava como um broche.
Aquilo tinha relação com algo que vira, não lembrava exatamente o quê.
Tomava o metrô todos os dias, e por sorte, certo dia viu e reconheceu a garota. Percebeu-lhe agora o broche de rosa de tamanho real, e a cor vermelho sangue nos cabelos, percebeu q tambem os olhos dela procuravam os seus. Tomou em si a convicção de conhecê-la, saber seu nome, intrometer-se na vida alheia. Mas era demasiadamente tímido pra estas situações.
Ensaiou uma abordagem simples, indireta. Era o máximo q sua insegurança poderia lhe proporcionar.
Veio a ideia de q ela poderia não lhe dirigir a palavra, mudar de banco, ou ainda ensaiar um escândalo no fundo do vagão.
Isso lhe excitou. Estava cansado de um dia desgastante, quando saiu do trabalho já depois das onze da noite, discutir com um colega, e ouvir as lamentações numa ligação de sua mãe.
Sentiu q precisava se desvencilhar um pouco da vida q o havia tomado. Pensar no vazio de sua casa lhe deixou enjoado.
Pensou q talvez sair e beber com os amigos fosse uma boa ideia, mas àquela hora seria difícil marcar algo.
Olhou um casal fazendo sexo atrás da escada rolante na estação Paraíso. Isso lhe deu inveja. Sabia q enquanto sua vida se resumia ao trabalho sem graça, aos amigos distantes, ao sofá desbotado de sua casa, as pessoas podiam ser felizes fazendo sexo nas estações de metrô.
Olhou para a garota novamente, desejou se aproximar. Aproveitou a deixa na estação Liberdade. Um casal de japoneses idosos entrou no vagão, ele ofereceu-lhes o lugar. Ficou em pé á frente da garota, a bolsa dela ocupava parte do banco ao seu lado. Ela percebeu o estranho em pé á sua frente, e ofereceu-lhe o banco.
Tudo certo.
Conseguiu.
Conheceu ela. Linda. Solteira. Feliz.
Admirou sua insegurança, suas frases com intervalos, desconexas.
Há tempos já não se importava em se aventurar com uma garota desconhecida, e suas ultimas experiências não lhe proporcionavam nostalgia.
A conversa informal se desenrolou. Percebeu q sua estação estava próxima. Trocaram telefones.
Chegou em casa, e antes de tirar a roupa para ir tomar banho , o telefone tocou.
_Alô - disse a voz doce
_Oi, q bom q ligou...
Conversaram por horas. Descobriu q ela vinha de uma cidade pequena no interior de Minas. Descobriu em suas palavras uma simplicidade colorida até então desconhecida no seu universo cinza, um sotaque cantado com canções leves e risadas tímidas.
Ela perguntou o q fazia aos fins de semana. Ele disse a verdade.
Ela riu.
_ O Mundo é um Sanatório, ofereça-lhe suas loucuras!
Ele aceitou.
Encontram-se finalmente no parque da Juventude. Conversaram sobre tudo, musica, família, descobriram q gostavam dos mesmos filmes, discordaram sobre o Hards Day Night, concordaram sobre o Sgt. Peppers - sim, é sensacional.
Ele percebeu q perto dela não tinha a necessidade de filtrar suas palavras, percebeu q se sentia tão a vontade como raras vezes aconteceu. Percebeu a mesma coisa no comportamento dela. O quanto se sentia a vontade também.
Mas não se beijaram. Ela queria cumplicidade, ele desejava descobrir cada vez mais.Ela queria ser cuidada, ele desejava toma-la sobre seus cuidados. Suas vontades se somavam.
Finalmente depois de alguns encontros conversaram sobre sexo. Ela era virgem, mas conversava a vontade sobre a situação. Era uma escolha q fizera. Não sabia dizer o pq, mas era a sua escolha.
Não encontrara muitos homens q despertaram nela a libido instintiva. Mas por suas palavras mostrou-se abertas a novas possibilidades. Ele entendeu.
Finalmente beijaram-se na despedida.
Ele ficou sonhando isso pela semana inteira.
Sua vida tomara um rumo inesperado, levava a um caminho novo, pelas curvas de uma estrada nova.
Percebeu então, q na verdade quando dormia no seu sofá desbotado e macilento, sonhava com aquele broche bordado de flor ao seu lado, e sentindo o perfume leve sobre aquela nuca de pele macia. Sabia q enquanto ficou perdido nos finais de semana sem graça q escolheu, na verdade estava esperando sozinho numa rodoviária vazia, por uma passageira q vinha em um onibus q se atrasou por tempo indeterminado. Mas que finalmente havia chego.
Entendeu q ás vezes para apressar a chegada de alguém, é necessário também apressar seus próprios passos.
(...)
Escrevi numa tarde chuvosa q não tinha nada pra fazer. Não terminei, pq simplismente não consigo terminar. Mas me deixa bem, ver q o personagem até o momento está se sentindo bem, e volta a sonhar.
=)